27 de outubro de 2007

Sei que, um dia,
De repente,
A vida.
Talvez um sorriso.
De repente, eu sei,
De repente, olho-me
E sou eu outra vez.
Um orvalho súbito
E (tenho a certeza)
Reverdeço.
Uma folha nova
Há-de crescer-me do coração.
E os olhos, como é evidente,
Irão florir.

24 de setembro de 2007

haverá sempre outro nome sob o meu
mesmo que atravesse a voz
ou o amor
cautelosamente
num número impecável

haverá sempre outro nome dentro deste
um nome mais fundo
que as águas mostram
ao menor movimento

20 de setembro de 2007

espera-me onde tudo ficou por dizer
nessa casa de mágoa
entre árvores
no meio da solidão
num jardim de Outubro
perto do fim

espera-me num poema
em qualquer poema
num verso branco
defronte de ti
junto da última palavra

2 de julho de 2007

os pássaros fugiram
investem agora contra a vidraça
e eu sei que sou todos eles
quando fecham as asas por fim
na perplexidade do vidro
eu sei que sou todos eles
e que o amor me morre atrás dos olhos
dentro de todas as palavras fechadas

20 de junho de 2007

Sabia sempre como chamar por ti.
Às vezes, respondias
e imaginava-te a saudade à flor dos olhos
(e uma alegria secreta por regressares na minha voz ).
Outras, deixavas-te estar com o silêncio,
o coração preso,
emaranhado em ausências,
as mãos longe,
ao sol da memória.

16 de abril de 2007

A certeza das palavras por dentro
Da surdez de todas as mãos
Atravessas a rua sem vontade
Ou a pele
A noite sempre por chegar
A melodia breve
Que as palavras não sabem
E que querias esquecer
A dor inteira

9 de abril de 2007

queria ser o mundo inteiro nos teus olhos
ou talvez os teus olhos
mas bastam-me as palavras
em vez da vida
bastam-me as mãos
na carícia do poema
a casa aonde regresso contigo
sob o mesmo luar

20 de março de 2007

normalmente são coisas simples
como a luz de certas vogais da tua voz
no meu nome
ou o desejo escondido de sol
ou o que era antes a fingir de agora
de nunca
talvez os olhos roubados à chegada
ou o tempo solto nas palavras
talvez a lua sempre fora de nós