8 de novembro de 2009

finges que me ouves
finjo que me ouves
sabemos que por mais palavras
que te pouse no peito
nada te limpará o coração

8 de setembro de 2009

atrás dos dos dias há outros dias
os que nunca chegaram
os que julgamos perdidos
os que rasgam a memória
e destroem o presente
como sismos
os que pousam na vida
sem se ver
partículas de nada
os que vivemos por dentro
actores mudos
desajeitados
do que nunca é

2 de setembro de 2009

falavas na solidão que nos veste e eu
como quem se despe de si
expliquei-te
ou sorri-te
que a vida é assim mesmo
que não devemos pensar nisso
a vida é assim mesmo
devemos ficar à tona de nós
deixar que o vento nos seque o rosto
e que a alma adormeça devagar

não devemos pensar nisso

20 de agosto de 2009

os olhos esperam qualquer cor
a forma da memória
o fogo posto do tempo
a hora em que os pássaros recolhem a voz e a noite
o clarão súbito do riso
o último voo