29 de setembro de 2005

Nunca atiraste uma pedra, uma palavra. Talvez saibas que nada quebra esta espessura de cristal. Nada estilhaça o abandono.

27 de setembro de 2005

Amanhã, acompanho-me à saída das horas,
e hei-de existir-me completamente,
ouvindo pulsar o que não sou
sob o túmulo da pele.

18 de setembro de 2005

Abre o dia com cuidado. Aguarda o incêndio das palavras. Cobre-o com o seu lençol de cinza.

16 de setembro de 2005

E quando abres a porta para ouvir a luz, uma ave anoitece as asas em silêncio.
Já acreditei que todos os olhos tinham casa, que todas as páginas tinham ar. Um dia, uma palavra havia de cortar a escuridão e transformar-se em mim.

13 de setembro de 2005

Liberta-te da casa, do solo, do rosto; transporta a espera, o acaso, o esquecimento; finge que há um lugar onde os instantes se desfazem, onde a ânsia adormece.

2 de setembro de 2005

E, de novo, todos os dias.
A alegria dos outros.
A arquitectura volátil do tempo.
De novo, a memória pousa devagar nas horas.